O texto de Rubem Alves, O senso comum e a ciência, expressa as relações entre esses dois conceitos a partir da vertente filosófica de entendimento da razão continuísta. Isso significa entender a ciência como um prolongamento do senso comum; possuem a mesma natureza, contudo, diferenciam-se apenas em intensidade.
É interessante notar como a alguns anos atrás Freire Maia (1990) considerava o senso comum como conhecimento vulgar, incapaz de gerar conhecimento científico, isso devido a sua origem superficial e ingênua.
Nessa mesma linha, Gaston Bachelard (1884-1962), filósofo famoso, afirmava que o senso comum e a ciência encontram-se em planos contraditórios: “a racionalidade do conhecimento científico não é um refinamento da racionalidade do senso comum, mas, ao contrário, rompe com seus princípios” (Lopes apud Bachelard, 1993, pág. 325). Para ele, não se deveria apresentar a ciência para leigos como prolongamento do conhecimento comum, isso devido à pretensão de tornar a ciência mais simples e acessível.
Essa concepção acaba trazendo a representação que os cientistas possuem todas as verdades, eles são os detentores de todo conhecimento importante. Não é difícil percebermos essa influência em nossa sociedade, basta ligarmos a televisão. As propagandas dos mais diversos produtos desde pasta dental, shampoo, barbeador (...) até automóveis têm apresentado a figura do cientista como forma de criar maior credibilidade. Muitos já deixaram a incumbência de pensar (seus problemas) ao chamado “doutor” por este ter-se especializado em determinada área.
Transportando esse contexto para a escola, esses papéis têm caído como uma luva na relação professor-aluno. Os conhecimentos do professor, do livro didáticos são supervalorizados e apresentados de forma a não deixar o aluno formular suas próprias hipóteses, reflexões acerca do fazer ciência. Enquanto o conhecimento do aluno, aqui comparado ao senso comum, geralmente não é considerado, especialmente no que diz respeito à formulação do currículo escolar.
Para Rubem Alves “o conhecimento só ocorre em situações-problema” (pág. 34). Por isso, destaca a importância do educador deixar o aluno problematizar situações em busca do pensar por si só. Esse seria um começo para formação de sujeitos que pensam e modificam sua realidade a partir do conhecimento sistematizado.
Patrícia Furtado
Bibliografia utilizada:
- Freire Maia, N. A ciência por dentro. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1990.
- Periódico: Enseñanza de lãs Ciências:
Lopes, A.R.C. Contribuições de Gaston Bachelard ao ensino de ciências. Historia y Epistemologia de Lãs Ciências. Rio de Janeiro, 1993.
- Alves, Rubem. Filosofia da Ciência: Introdução ao jogo e a suas regras. Leituras Filosóficas. Editora Ars Poética, SP.
sábado, 21 de abril de 2007
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