quinta-feira, 26 de abril de 2007

O CARTEIRO E O POETA

Pablo Neruda, homem de influência, respeitado pela sociedade por seu grande conhecimento na arte da poesia.

Mario, carteiro, filho de pescador, habitante de uma pequena ilha da Itália.

Quando essas duas diferentes realidades se encontram, surge uma singela amizade. No entanto, mais do que uma bela e sensível história de amizade, O carteiro e o poeta (1994) aborda aspectos facilmente conectos ao tema “senso comum e ciência”.

De um lado a figura do poeta, representando o status da ciência. É possível notar o grande reconhecimento que o poeta tem por deter um conhecimento restrito a alguns. Por exemplo, o chefe do correio sempre se refere a ele como alguém mais importante, no qual não pode ser incomodado por 'pessoas comuns' como Mario. Já figurando o campo do senso comum está Mario, o simples carteiro, alguém acostumado a reproduzir idéias alheias, sem entender a origem delas. Isso fica evidenciado quando passa a acreditar no que ouve no noticiário sobre Pablo, de que este é amado pelas mulheres por causa de sua poesia.

Dada essa lembrança, não se pode deixar de registrar a enorme influência que a mídia, como um todo, tem no engessamento de pensamentos e consequentemente, na supervalorização do senso comum. A televisão, por si só, pressupõe em sua natureza um modelo de telespectador passivo.

Outro ponto fundamental do filme, seguindo a mesma linha de Rubem Alves, é o estabelecimento de uma linha tênue entre ciência e senso comum. Fica clara em determinadas cenas, como a que Pablo e Mario estão sentados na praia, a forma como a ciência (metáfora) também parte do senso comum (situações diversas cotidianas).

Dessa forma, de maneira sutil o filme passa a mensagem de que todos podem se tornar “cientistas”, capazes de pensar o mundo, a partir da reflexão da sua própria prática diária, basta a motivação correta. No entanto, o primeiro passo é desmistificar conceitos socialmente construídos que giram em torno do que vem a ser ciência e senso comum.

Patrícia Furtado

sábado, 21 de abril de 2007

SENSO COMUM E CIÊNCIA

O texto de Rubem Alves, O senso comum e a ciência, expressa as relações entre esses dois conceitos a partir da vertente filosófica de entendimento da razão continuísta. Isso significa entender a ciência como um prolongamento do senso comum; possuem a mesma natureza, contudo, diferenciam-se apenas em intensidade.

É interessante notar como a alguns anos atrás Freire Maia (1990) considerava o senso comum como conhecimento vulgar, incapaz de gerar conhecimento científico, isso devido a sua origem superficial e ingênua.

Nessa mesma linha, Gaston Bachelard (1884-1962), filósofo famoso, afirmava que o senso comum e a ciência encontram-se em planos contraditórios: “a racionalidade do conhecimento científico não é um refinamento da racionalidade do senso comum, mas, ao contrário, rompe com seus princípios” (Lopes apud Bachelard, 1993, pág. 325). Para ele, não se deveria apresentar a ciência para leigos como prolongamento do conhecimento comum, isso devido à pretensão de tornar a ciência mais simples e acessível.

Essa concepção acaba trazendo a representação que os cientistas possuem todas as verdades, eles são os detentores de todo conhecimento importante. Não é difícil percebermos essa influência em nossa sociedade, basta ligarmos a televisão. As propagandas dos mais diversos produtos desde pasta dental, shampoo, barbeador (...) até automóveis têm apresentado a figura do cientista como forma de criar maior credibilidade. Muitos já deixaram a incumbência de pensar (seus problemas) ao chamado “doutor” por este ter-se especializado em determinada área.

Transportando esse contexto para a escola, esses papéis têm caído como uma luva na relação professor-aluno. Os conhecimentos do professor, do livro didáticos são supervalorizados e apresentados de forma a não deixar o aluno formular suas próprias hipóteses, reflexões acerca do fazer ciência. Enquanto o conhecimento do aluno, aqui comparado ao senso comum, geralmente não é considerado, especialmente no que diz respeito à formulação do currículo escolar.

Para Rubem Alves “o conhecimento só ocorre em situações-problema” (pág. 34). Por isso, destaca a importância do educador deixar o aluno problematizar situações em busca do pensar por si só. Esse seria um começo para formação de sujeitos que pensam e modificam sua realidade a partir do conhecimento sistematizado.

Patrícia Furtado

Bibliografia utilizada:
- Freire Maia, N. A ciência por dentro. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1990.
- Periódico: Enseñanza de lãs Ciências:
Lopes, A.R.C. Contribuições de Gaston Bachelard ao ensino de ciências. Historia y Epistemologia de Lãs Ciências. Rio de Janeiro, 1993.
- Alves, Rubem. Filosofia da Ciência: Introdução ao jogo e a suas regras. Leituras Filosóficas. Editora Ars Poética, SP.